domingo, 8 de novembro de 2009

Legitimidade na história das mulheres

Homens não podem ser os protagonistas da história das mulheres, devem ser os coadjuvantes. A nossa história, tem que ser escrita por nós mesmas, mulheres de coragem, força e inteligência. Foi refletindo a partir deste pensamento que encontrei o texto abaixo da Reverenda Elena Alves Silva da Igreja Metodista. Instituição protestante que reconhece a mulher ordenando-a num ministério que para muitas outras igrejas é campo de exclusiva competência do homem. Seja na sociedade ocidental ou oriental a história deve ser registrada pelo seu protagonista, a partir de suas impressões, permitindo assim a manutenção da essência de suas experiências.


"Não importa o que o passado fez de mim. Importa é o que farei com que o passado fez de mim". - Jean-Paul Sartre
O dia 8 de março é lembrado pela luta das mulheres em defesa de seus direitos. Sabemos que o evento ocorrido no dia 8 de março de 1857 foi terrível e não deveria trazer nenhuma lembrança agradável para qualquer ser humano, mulher ou homem. Entretanto não se trata de celebrar este dia e nem de dar parabéns à mulheres, mas abraçá-las por suas conquistas e sua contribuição efetiva na construção de uma nova sociedade.

Ouvi esta semana uma frase que tornou-se sabedoria popular e já não é possível recorrer à sua autoria: “As mulheres fazem lares e os homens fazem guerra”. Esta constatação enfatiza o quanto a presença feminina no mundo público do trabalho e da política é importante. As mulheres esforçam-se por construir e preservar os ambientes. Sim, não é para negar: as mulheres carregam consigo o Dom do cuidado e ele é essencial para a humanidade. Não significa que sejamos as responsáveis solitárias pelo trabalho de cuidar, mas que o nosso pensamento se detém neste aspecto e nesta necessidade para a vida humana. Leonardo Boff afirma em seu livro “Saber cuidar” que se o ser humano não der valor para a dimensão do cuidado com todas as coisas, ele será o seu próprio algoz e responsável pelo seu fim; e diz a ainda que a presença da mulher nas esferas públicas será o grande diferencial para termos vida na terra por mais ou menos tempo.

Gosto de pensar que a mulheres excluídas do espaço público por tantos séculos, confinadas dentro das casas e incumbidas exclusivamente do cuidado com os filhos e limpeza das casas podem fazer muito com o que foi feito delas. A frase de Sartre nos diz exatamente isto: importa o que faremos com o que fizeram de nós.
Há uma história na Bíblia que narra a vida de Ester – rainha da Pérsia. Esta moça foi criada por seu tio, depois da morte de seus pais. Fazia parte do povo judeu e vivia a experiência de ter sido tirada de sua terra e viver em terra estrangeira. No reino da Pérsia a mulher não tinha valor nenhum como pessoa aos olhos do rei e dos seus súditos. Ester foi elevada ao trono para substituir Vasti, antiga rainha, que foi punida com rigor por não atender a um chamado do rei, desobedecendo suas ordens.

Apesar de todas as circunstâncias adversas na vida de Ester e de sua família, da realidade em que vivia e dos desafios de estar ao lado de um rei que a escolheu apenas por sua beleza, ela adquiriu papel central nesta história do povo judeu, como heroína e libertadora. Os judeus foram ameaçados de morte e envolvidos numa intriga promovida por Hamã, principal dos príncipes do rei Assuero, que queria vê-los inclinados e prostrados diante dele. Ester interveio junto ao rei e garantiu que a intriga fosse esclarecida. Sua ousadia fez diferença, pois deixando toda experiência negativa de sua trajetória de lado, ela se colocou como forte e guerreira.

O final da história é a vitória comemorada com uma grande festa, tradicional ainda hoje entre os judeus, chamada Purin – ou dia de sorte.

Na história de Ester e de tantas outras mulheres fortes na Bíblia, podemos tirar uma lição: não adianta ficar reclamando do que fizeram de nós, nem mesmo do que a vida proporcionou ou condicionou a cada uma e cada um de nós; importa é saber que no lugar onde estamos podemos fazer diferença. Ou ainda como dizia Sartre: Eu posso não ser responsável pelo que fizeram de mim, mas sou responsável pelo que eu faço com aquilo que fizeram de mim.

Na força de Deus que nos move em defesa da vida estamos aqui e celebramos as lutas, as conquistas e possibilidade de decidir com autonomia que as mulheres vêm alcançando ao longo dos anos. Que a Bênção de Deus nos acompanhe em nossas trajetórias hoje e sempre.

Extraído do site da Metodista

domingo, 1 de novembro de 2009

Pensando no outro a partir de si mesmo



Como seria pensar as relações entre os seres humanos a partir de gênero? Qual a posição que homens e mulheres ocupam na história social da humanidade? Teria a mulher um papel secundário na sociedade como ressaltou Simone de Beauvoir? É possível precisar desde quando o processo de dominação masculina está instaurado no mundo? – como destacou Pierre Bourdieu–.

“Sejam mulheres, permaneçam mulheres, tornem-se mulheres” O que significaria isso? Ser mulher estaria associado ao sexo? Permanecer mulher ou tornar-se uma poderia ser relacionado aos trejeitos femininos adotados por nós? O quanto esses gestos e posturas são realmente nossos ou inculcados pela outro sexo? – o masculino. Para Bourdieu está na lógica masculina impor e inculcar nas mulheres virtudes e traços que tornem-se favoráveis ao exercício da dominação masculina, e neste sentido nos remete a pensar no uso de saias – limitando o sentar mais confortável, saltos altos – que naturalmente impõe equilíbrio e impede-nos acompanhar os passos rápidos masculinos, bolsas – mantém as mãos ocupadas e controla os gestos.

“Se a função de fêmea não basta para definir a mulher, se nos recusamos também a explicá-la como ‘eterno feminino’ e se, no entanto, admitimos, ainda que provisoriamente, que há mulheres na Terra, teremos que formular a pergunta: o que é ser mulher?” (Beauvoir) E complemento, o que é ser homem na sociedade atual? Como pensar essas relações e seus papéis a partir da história da sociedade e como ela foi construída em diversas outras culturas, tão distintas.

Seria verdade que um ser em si é incompleto e ele só seria total junto com o outro? O filósofo grego Aristóteles dizia que “A fêmea é fêmea em virtude de certa carência de qualidades. Devemos considerar o caráter das mulheres como sofrendo de certa deficiência natural”. Sendo assim a mulher seria o tal ser incompleto e o homem o ser total, que existem em sí mesmo?


“O homem é pensável sem a mulher. Ela não, sem o homem. Ela não é senão o que o homem decide que seja; daí dizer-se o ‘sexo’ para dizer que ela se apresenta diante do macho como um ser sexuado: para ele, a fêmea é sexo, logo ela o é absolutamente. A mulher determina-se e diferencia-se em relação ao homem, e não este em relação a ela; a fêmea é o inessencial perante o essencial. O homem é o Sujeito, o Absoluto; ela é o Outro.” (Beauvoir)

A partir destes questionamentos quero propor a todos @s leitores pensar no outro ser a partir de si mesmo e também pensar a si mesmo a partir do contato com o outro ser, ou com outra cultura.