Porque política, futebol e religião não se discute? Mas quem disse isso?!
O primeiro ponto seria e por que não estudar religião?
Tomei a iniciativa de escrever após a leitura do artigo de Luiz Pondé, publicado na Folha de São Paulo de 20/02/2012 “Por que estudar religião?” no qual o autor questiona que ao invés de estudar religião, deveríamos vivenciar a religião.
Outro ponto destacado pelo jornalista é o estudo científico da religião e é ai que eu gostaria de contribuir com algumas reflexões. A minha intenção, quando comecei a estudar religião, foi de fato compreender os diversos fenômenos religiosos que tive e tenho contato. Sou uma peregrina, uma nômade da fé, usando o termo de Michel Mafessoli e meu intuito sempre foi de compreender essa busca incessante humana, quase dependência, pelo contato com o sagrado, com o transcendente.
É fato que observamos na academia religiosos mergulhados no estudo de suas próprias instituições, neste sentido as justificativas de Luiz Pondé para o estudo da religião são aplicáveis. Alguns dos que encontrei, estavam na academia para alcançar graus na instituição a qual são vinculados ou mesmo para compreender algum ponto mal explicado dentro da sua teologia. Houveram sucessos e fracassos nessa investida.
No meu caso, optei por debruçar meus estudos em uma religião a qual eu não faço parte, justamente para manter a tal “neutralidade” metodológica, mencionada por Pondé, tão enfatizada na academia e acabei por exercitar um olhar crítico mais fortemente quanto a minha própria instituição.
Na verdade a discussão não é sobre a relevância do estudo da religião, mas sim se religião é importante ou não para nossa sociedade. Esse é um debate importante nas pesquisas em ciências sociais e não há um consenso entre os estudiosos da religião.
Se por um lado temos os “sem religião” ou os ateus que relativizam o poder da religião, por outro temos pessoas que “visitam” religiões, indo a cada dia numa instituição diferente, que por vezes tem doutrinas absolutamente distintas ou contraditórias. Não estaríamos então vivendo uma época de uma religiosidade efervescente e sem uma fixidade institucional?
Não discutimos sobre futebol, religião e política por que não entendemos realmente do assunto ou por que em todos eles temos um envolvimento emocional que nos impede de ter um debate racional sobre essas escolhas? As escolhas humanas são pessoais baseadas na emoção e na razão também, por vezes, mais fundamentada na razão.
Estudar religião, pra mim, foi e tem sido uma maneira de compreender as escolhas da sociedade, baseadas na emoção mais do que na razão. Pelo estudo da religião ficou mais fácil compreender os guetos religiosos que se formam, nem sempre claros de perceber, mas que identificamos por meio da adoção de gestuais, comportamentos e atitudes dos adeptos.
Não creio que estudando religião, cientificamente, alguém consiga resolver seus problemas espirituais ou escolher uma religião para seguir. Mas acho que pelo estudo das teologias, doutrinas, práticas é possível compreender o quão superficiais são as escolhas humanas e seus critérios adotados quando se trata de religião. O quanto suas decisões se baseiam no seu histórico social, cultural e religioso também.
Religião é uma expressão cultural e toda forma de expressão merece atenção e assim um estudo mais racional. A religião é uma produção humana e suas variações acompanham a cultura na qual foram originadas. Estudar a religião é também estudar o comportamento do ser humano quando individuo ou coletivo. É partir destes estudos, que decisões políticas e sociais são baseadas, tendências culturais, moda, saúde e propaganda são estabelecidas e novos rumos são tomados.
Estudar religião pode ser também uma questão de saúde pública. A religião tem um papel social importante que auxilia na condução humana, por exemplo. Se pensarmos que algumas religiões incentivam o planejamento familiar ou a adoção de práticas de higiene rigorosas (islã e judaísmo), isso não seria uma forma de regular a saúde pública? Por outro lado, o estudo da religião, ou mesmo um acompanhamento de tendências religiosas pode nos ajudar a compreender e prever casos de suicídios coletivos (Jim Jones: Jonestown, Guiana em 18/11/1978, 918 mortes por envenenamento; David Koresh, Monte Carmelo, Waco em 19/03/1993 - 54 adultos e 21 crianças queimadas) ou de guerras sociais de fundo religioso como o caso de Antonio Conselheiro: Canudos, Bahia em 1896-1897, 25 mil pessoas mortas em batalhas. Isso sem falar nos conflitos intermináveis no Oriente Médio, não?! A guerra santa que acontece naquela região não é muito diferente da que acontece no Brasil (aqui sem conflito armado) nas disputas entre os canais de TVs, suas mega construções e seus líderes megalomaníacos. Acha realmente que a religião não é importante? Que não devemos compreender as escolhas religiosas para ajudar a sanar conflitos como esses?
Ignorar a religião seria sim um problema.
Estudar religião é fascinante, ainda mais quando olhamos sem um pré-formato já concebido...
ResponderExcluirFantástico! =)
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