domingo, 22 de fevereiro de 2015

Das reviravoltas da vida




Das reviravoltas que a vida nos proporciona tenho tido a oportunidade de revisitar diversos terreiros de Umbanda de amigos antigos e novos que ganhei pelas trilhas que percorri.

E nessas minhas andanças, tenho tido contato com uma Umbanda diferente da que frequentei na minha infância. Sempre digo em aula que tive uma infância muito plural e quando criança, frequentei de tudo um pouco e tudo ao mesmo tempo. Alguns até recriminam, por ter tido tantas experiências, mas acredito que até nisso houve um propósito maior, sem o qual eu não teria a facilidade de transitar pelas religiões, pesquisá-las, estudá-las e mais ainda, falar delas para quem não as conhece.

Sou professora de teologia, apaixonada pelo que faço, e tem sido um desafio estudar as religiões e falar delas para quem as deseja conhecer. Em aula, pouco falo da minha própria espiritualidade, até porque esse não é objetivo, nem o conteúdo programado. Mas nessas peregrinações tenho feito meus encontros com a espiritualidade e percebido muitas semelhanças e diferenças nas religiões. Hoje, e particularmente hoje, vejo que Deus tem sido apreendido pelas pessoas de maneira única e particular, como se fosse um grande guarda-chuva, na qual cada religião tem uma percepção do todo, que se somada a outra poderá ampliar nosso olhar e percepção sobre o Criador.

Mas voltando a Umbanda, noto uma religião mais organizada, revigorada e formatada de maneira que se torne mais fácil de ser compreendida pelos leigos. Ha também um esforço maior de aproximar suas práticas doutrinárias daqueles que antes as incompreendiam ou achavam muito difíceis. É sempre muito positivo o esclarecimento e a difusão do conhecimento, pois aquele que conhece, sabe fazer por si próprio e consequentemente não se torna presa fácil para as mães de poste e enganadores de plantão.

Sim, nesses 30 anos a Umbanda mudou, ao menos uma parte dela, temos dirigentes mais envolvidos no ensino de seus médiuns e médiuns mais interessados em conhecer para se tornarem instrumentos melhores na prática religiosa. Nova roupagem sim, mais ainda com velhos problemas. "Vinho novo em odres velhos" como no evangelho de Mateus (capitulo 9, versículo 17). Problemas que talvez não sejam exclusivos da Umbanda, mas que tem me chamado mais atenção nos terreiros que tenho visitado, entre eles destaco a vaidade.

Quem usa a guia mais colorida, grossa ou cheia de detalhes, ou até quem mais tem colares pendurados no pescoço. Entre as mulheres a disputa se dá em torno da saia mais rodada ou entre os homens o filá mais dourado que o outro. Entre os médiuns em geral ha quem pleiteie por mais graus de magia que o outro ou quem tenha mais dons mediúnicos para dizer se o irmão está ou não incorporado.

Enfim, nota-se novos médiuns, mas ainda velhos problemas.

Se me lembro, essas questões ja apareciam na Umbanda da minha infância e noto que essa ainda é uma questão presente no discurso dos umbandistas que tenho conversado. Frequentemente escuto dirigentes falando sobre os problemas de ego, vaidade e excessos cometidos pelos médiuns em suas casas. E mais ainda, converso e encontro médiuns que mudam de casa devido intrigas que foram feitas por outros irmãos.

Ao contrário do que alguns podem pensar, esse não é um problema exclusivo da Umbanda e o mesmo ocorre em outras instituições religiosas, salvo suas devidas adequações.

Então, como uma pesquisadora e acadêmica me pergunto, porque tal problema ocorre em religiões tão diferentes? O que lhes falta? Nem sempre a resposta é exata, mas por hora a espiritualidade tem me ajudado a compreender. O que falta, em todos esses casos, é tão simplesmente, a prática da caridade. Sim, porque o caminho da espiritualidade é simples, assim como os grandes mestres nos ensinaram como Jesus, Buda e Maomé.

Portanto se todos nós nos atermos a olhar tão apenas para nosso próximo, indistintamente, nos preocupando com seu bem estar, sua evolução, estaremos em contato direto com a espiritualidade. E para isso não importa se você está na igreja, mesquita, sinagoga, no templo budista ou no terreiro, seja onde for, o mais importante é fazer o bem, sem olhar a quem.